14/12/09

Reflexão: O antes e o depois

O que trouxe o 25 de Abril ao nosso país? São cada vez menos as pessoas habilitadas para testemunhar o que mudou com o 25 de Abril. Se já lã vão 35 anos e considerando que apenas com 15 anos (e mesmo assim...) é que se tinha alguma consciência daquilo que se passava, é preciso que hoje se tenha 50 anos. Tirando os "activistas" contra o regime, cujos relatos são multiplicados pelos meios de comunicação social, a verdade é que muitas pessoas, predominantemente idosos, sentem alguma saudade do regime anterior ao 25 de Abril de 1974.
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Não quero de modo algum defender esse regime, até porque a minha idade não o permite, mas posso perfeitamente apontar alguns dados factuais ou não.
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Segurança?
Os meus avós dizem que estavam mais seguros no anterior regime. Havia mais respeito e as pessoas podiam deixar as portas abertas que não havia "larápios". Hoje? Bem, eu posso dizer que não me sinto seguro. Nem no Porto, nem em Lisboa, nem em lado nenhum, viajo de carro com as portas sempre trancadas, evito andar sozinho na baixa à noite e é condição obrigatória trancar todas as portas de casa de noite ou quando não estou.
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Finanças Públicas?
Salazar (não sei se posso dizer o nome dele) encheu os cofres do país. Foi um dos melhores Ministros das Finanças de todos os tempos. Passou de bestial a besta por ter imposto um regime ditaturial. Mas será que hoje estamos melhor?
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Liberdade?
Esta é uma questão polémica! Até porque a maioria das pessoas não sabe o que é liberdade. O meu conceito de liberdade tem um conceito implícito de respeito. Não podemos falar em liberdade sem falar de respeito. A nossa liberdade individual termina onde começa a dos outros. Perguntem aos jornalistas se semtem que hoje, com Sócrates, existe liberdade de impensa. Eu acho que não! E nem sequer falo em Marcelos nem TVIs.
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Um pequeno aparte, com esta lei do tabaco, colegas meus e outras pessoas questionaram a sua liberdade: "Agora já nem tenho liberdade para fumar o meu cigarro num café ou num restaurante, após terminar a minha refeição". Pois... e eu não tinha liberdade para comer a minha tosta mista ou saborear um belo bife da portugália sem ser invadido pelo fumo do SG Ventil da mesa ao lado. Nessa questão, hoje sinto-me muito mais livre!

Nível de Vida?
Eu não tinha grandes dúvidas em afirmar que o nível de vida deve ter aumentado. E provavelmente é verdade. Estamos também mais desenvolvidos. Mas a questão não é estática. Tem de ser analisada em termos dinâmicos: Como estariamos se...? Com ditadura ou não, ou com Mário Soares ou não, só sabemos uma versão da história. A outra só podemos estimar ou sonhar com ela. Mas o que é certo é a questão em baixo:
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Salário Mínimo Nacional
Se o SMN tivesse sido actualizado anualmente ao nível da inflação desde o dia 25 de Abril de 1974, em 2010 estaria ao nível de 562 euros e não os 475 euros anunciados. Isto significa uma perda de 15% face ao estabelecido na altura.
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Não sei não... Se me apresentassem estes dois cenários para viver penso que escolheria aquele em que não vivo hoje. Mais livre, com mais perspetivas embora menos desenvolvido, mais seguro e com as finanças em ordem. Parece-me bem...

(Público)

2 comentários:

  1. Caríssimo,

    A mim surpreende-me sempre a leveza com que hoje em dia se fala com saudosismo dos tempos da ditadura, sobretudo por parte de quem não a viveu. Tudo isto que aqui descreve é muito bonitinho, esquecem-se é dos pequenos pormaiores. Segurança, sim senhora, mas ai de quem discordasse, porque aí valia tudo. Respeitinho, olarilas! Educação é que está quieto, não convém saber de mais. 4ª classe é quanto baste e mesmo é essa não é para todos (e se acha que a 4ªclasse doutros tempos era outra, pergunto-lhe se também acha que com 10 anos já tem condições para saber tudo o que precisa...). E ver um concerto rock? Metallica, U2, Muse e afins? Num país de "bons costumes" como eramos? Nem pensar. Pequenas características de um regime que considerava que a divergência política era suficiente para se arrancarem unhas e fritar testículos.

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  2. Caro Dr. Baco,

    Tal como você não posso sequer recordar esses tempos, quanto mais com saudosismo. Mas se reparar nas minhas primeiras linhas, vai descobrir que apenas estou a fazer uma comparação factual (sempre que possível).

    Em relação à educação, é uma falsa premissa. Existem licenciados dessa altura. Mas mais, compare os números de licenciados de hoje com os de há 10 ou 15 anos atrás. Hoje existem muitos mais mas isso não quer dizer que neste recente passado não interessava ao "regime" que as pessoas tivessem formação!

    "Segurança, sim senhora, mas ai de quem discordasse, porque aí valia tudo." E a Manuela Moura Guedes? E o caso das escutas Governo/PR? E o caso Marcelo? e dos jornais a quem são retirados apoios e cujas empresas públicas retiram os anúncios publicitários desses jornais por publicarem notícias que, dizendo a verdade, não vai ao encontro da verdade do Governo? Estaremos assim tão longe da ditadura?

    Talvez um dos nossos problemas é estarmos demasiado perto temporalmente de 1974 e de Salazar. Existe uma grande desconfiança que a direita seja igual a ditadura. Mas não é! Até porque existe ditadura de extrema esquerda, bem pior ou não, das ditaduras de direita.

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