26/02/10

"Uma questão de cidadania"

Sinto um misto de revolta, vergonha e desalento.
Vivo num país em que o Primeiro-Ministro é corrupto, o seu staff é corrupto, o Procurador Geral de República não é independente e, por cumplicidade, é também corrupto. Vivo num país em que pessoas importantes da nossa sociedade estão envolvidas num escândalo de abuso de menores (Casa Pia) e a justiça é demasiado lenta a lidar com este caso. Vivo num país em que a jornalista que desenterrou este caso é perseguida e mais ainda agora que denuncia as escutas que mostram a corrupção instalada no nosso país.
Vivo num país em que os jornalistas sem medo, que expressam a sua opinião são afastados, os seus programas e crónicas são encerrados, sendo verdadeiramente "um problema que necessita de resolução".
Vivo num país em que o PM é demasiado burro para entender conceitos económicos, mas ainda assim fala como se estivesse dentro do assunto.
Vivo num país com graves problemas de défice orçamental mas isso não impede o executivo de avançar para grandes obras públicas, que vão agravar e muito o défice, sobretudo no curto prazo onde o retorno não existe mas apenas o prejuízo. Vivo num país que "precisa" do TGV para se ligar rapidamente à Europa, quando o avião o faz muito mais rapidamente. Vivo num país em que uma deputada eleita pelo PS em Lisboa tem as viagens pagas para França (sua residência) todos os fins-de-semana.
Vivo num país em que o PM tira o curso ao domingo, numa universidade sem prestígio nenhum, com números de telefone do tipo 21XXXXXXX e códigos postais de 1250-XXX quando nessa altura os número de telefone tinha indicativo (01) XXXXXXX e os códigos postais eram apenas de 4 dígitos.
Vivo num país em que o PM devia ter a justiça à perna devido ao caso Freeport, mas toda a gente sabe que não lhe vai acontecer nada.
Vivo num país em que o PM exerce influência em meios de comunicação social e tem mesmo um plano para os controlar, e nada lhe acontece. Nem sequer o PGR abre um inquérito porque também não é independente.
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E o pior de tudo é que vivo num país onde as pessoas riem-se disto tudo e fazem piadas. E como se não estivessem contentes, a sua maioria, vota neste corrupto. E para agravar, ainda existem uns cegos que conseguem defender o PM, apesar de todas as provas que existem para o acusar. Num país a sério, o PM tinha-se demitido. Num país a sério, o Governo tinha caído por iniciativa própria ou por decisão do Presidente da República. Num país a sério, Manuela Moura Guedes continuava com o seu jornal de sexta na TVI, por mais que incomodasse o Sócrates e por mais que eu não gostasse. Num país a sério, Mário Crespo continuava com a sua crónica num dos principais jornais de referência nacional. Num país a sério, José Manuel Fernandes não era pressionado para abandonar o seu jornal. Num país a sério, José Eduardo Moniz continuava na TVI. Num país a sério, Felícia Cabrita não era perseguida politicamente por desenterrar o caso Casa Pia (que envolve socialistas) nem por denunciar o nosso PM corrupto. Em vez disso, era homenageada nas comemorações do 25 de Abril.

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